DEIXA?

Poesia:

Do abismo da alma me clama

Anestesia,

Que nada queima esse fogo

Que nada arde essa chama

Das palavras um mero jogo

Que pensa nalguém que me ame

Incendeia, encanta, inflama

Que ora me causa lembrança

Causa dor na cabeça perdida

Nasce e floresce

Esperança, morte e vida Severina.

Poema?

Vai-se em versos diluindo

Tema:

Risco, sorriso, traço e olhos iludir

Diletante arte de escrever o dilema

Como a margem da boca sorrir

Como a margem do rio Grande afluente

Como a margem do horizonte poente

Como a margem do poeta é fingir:

Deixa a margem dos olhos uma gota cair.

Deixa?

Deixa eu te fazer crer!

Que o mundo é belo

Que a rosa é azul de doer

Que o sol é verde e amarelo

Que o pavão tem voz maviosa

Que cor de pele é cor de rosa

Que toda música é serena

Que toda palavra é um poema...

Deixa eu te fazer crer!

Que a criança tem alma doce

Que o velho vai morrer

Que se o mundo girar fosse,

Eu não escreveria,

Só passaria a viver.