História de busão
Quantas histórias pode haver
Dentro de um único busão
Que para em cada ponto
Pegando as pessoas na estação.
Cada qual um destino diferente
Uma outra direção
Será mesmo que não tem nada
Em comum nesses cidadãos?
A Maria vai para casa de família
Cuidar dos filhos da patroa
Enquanto os dela
Ficam em casa atoa.
A escolha não é dela
O que pode fazer ?
Se não sair as 5 damanhã
As 5 da tarde, a família não terá nada para comer.
O João que está pior
Hoje mais um dia de procurar
Um emprego descente
Para a família sustentar.
Passa o dia rodando na rua
Sem encontrar nada
Ao fim da tarde volta para casa
Com a cabeça abaixada.
Olha esse que sobe agora
Nessa nova estação
Usa pircin, tatuagem
Escutando os rap boladão.
Maria e João pais de famílias
Reclamam da geração
Que andam como vagabundos
Para chamar atenção.
Chacoalha daqui, dali,
Mais uma parada
Dessa vez entra uma moça
Que atiça a machadada.
Passa pelo tatuado
Que nem as horas lhe dá
E que internamente pensa
"Esse tipo, nunca será para namorar."
A moça apesar de nova
Já tem filho para sustentar
Mãe solteira como tantas
Vai também trabalhar.
Essa nova parada
Sobe um sujeito diferente
Mesmo sendo 7 da manhã
Anda feliz e contente.
Tem um jeito afeiminado
Simpático como ninguém
Mas todos olham torto para ele
Mas ele não dá ouvido também.
Esse não tem filhos
Mas tem sonhos para cuidar
Esta indo para a faculdade
Para mais um dia estudar.
É filho de uma Maria
Junto com um José
Na vida dele faltou tudo
Mas nunca faltou fé.
Entre ruas e vielas
Entra mais uma passageira
Com uma criança nos braços
Que vê tudo como brincadeira.
Sorri para todo mundo
Sem nenhuma destinação
Não focaliza ninguém
Mas para todos da com a mão.
Senta junto da mãe
Uma mulher normal
Batalhadora como as outras
Mas nada de especial.
Mas o menino, coitado
Era cego de nascença
Vivia a vida sem ver nada
Assim também, não via diferença.
Quem dera, todos ali
Também tivessem aquela cegueira
Só assim encararia o preconceito
Como uma grande besteira.
Quando não se vê
Nem ao menos um clarão,
O que seria bonito para você
Em meio a escuridão ?
Qual mulher era a bonita ?
Qual homem trabalhador?
Quais eram os felizes?
Quais escondiam dor?
O corpo não dá para ver
Os adereços também não
O sorriso não se enxerga
Nem o choro do coração.
A moça é bonita porque tem voz doce
O homem legal, porque fala com euforia.
O tatuado é sério, fica só no silêncio
O José tá triste, fala sem alegria.
Pro menino é assim
Tudo é emoção
As pessoas são o que sentem
Não importa a razão.
E assim segue o ônibus
Só o menino enxergando a direção
Enquanto todos continuam cegos
Com amarguras no coração.