Analistas

Às vezes levo um papo com meus poemas,

Felizes são eles, penso, em sua segurança;

Nunca me falam de quaisquer problemas,

Na verdade, viram meus ouvintes, apenas

Analistas, minh’alma no seu divã descansa...

Parlo de amores, desamores, sonhos e tal,

e visões cidadãs deixo escoar entre dedos;

aceitam até dicas de teor santo, espiritual,

seu maior bem é suportarem, ao meu mal,

na sua audiência posso depor meus medos...

Transparentes, sei, camuflam, e explodem,

Retos exatores disfarçam, em rumos tortos;

os leitores nem vêm tudo o que eles podem,

na linguagem ambígua seu paciente acodem,

sangram uma vida, travestindo-se de mortos...

Neles até pode sorrir disfarçado certo pranto,

Afinal, joga alguns bilhetinhos, a alma reclusa;

São meros predicados, não sujeitos, entretanto,

Toleram a essa sina de “musos” por enquanto,

Mas sabem de cor, que os devo à minha musa...