A verdade
A verdade passa fome
As pessoas não a alimentam,
Pois a muito a trancafiaram numa cela escura e vazia.
Algumas pessoas a liberam quando a praticam.
A verdade sabe o caminho de volta.
Mas não é uma boa estrategista.
Ao se mostrar nua e crua
Assusta os medrosos seres humanos
Que insistem em se apegar as suas máscaras.
Foi reprovada no teatro da vida.
Dispensa apresentações.
Detesta bajulações e cinismo.
Odeia hipocrisia.
É autossuficiente.
Só a si mesma basta.
Merece ser aplaudida de pé por sua eloquência.
Mas ela não faz questão de falsa modéstia.
Faz um excelente trabalho, mas ninguém reconhece.
Nem uma gratificação nem um retrato como funcionário do mês.
Só gosta de duas cores.
Para ela, é tudo no preto e no branco.
Não flerta com a mentira.
Nem por curiosidade.
Não é duas caras com a justiça.
Porém admite ser os dois lados da moeda, caso necessário.
Não precisa que limpem sua bagunça.
Ela não deixa sujeira para traz.
Não joga as coisas para debaixo do tapete.
Não inclina o nariz com ar de superioridade.
Vaidade lhe dá preguiça.
Fama, tédio.
Prefere ser a criança traquina que se esconde atrás da cortina com os pés a mostra.
Não cabe em si a postura reta e sapatos de salto fino.
O papel de adulta só lhe cabe nos momentos em que precisa ter voz.
No mais, gosta de brincar e de pregar peças em que está desavisado.