BOCAS ESPETADAS

O amor é fino acepipe,

um restaurante para sentidos famélicos,

alívio para fomes obsessivas,

uma afeição profunda embora mal passada.

Dizem que o amor tem um cozimento sem fim,

e o que era medo de amar

pode deixar de ser “couvert “ opcional.

E quando servido afinal,

surgirão delícias,

suspiros,

corações mal escaldados

e desejos

perdidos como insetos nas dobras da alface.

Decerto junto com o amor,

oferecem ainda um peito grelhado

sobre uma mixórdia de bocas leguminosas,

verduras de assimilação instantânea.

Não há frutas.

(Restaurante mal frequentado este.

Servir cachaça barata não é educado).

Tu não sabes se voltará ali um dia.

Comes o amor.

Este arroto após a carne é significativo.

É a enorme concreção dos beijos

na região estomacal.

Livro: "BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 14/04/2016
Reeditado em 17/03/2017
Código do texto: T5605030
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