O Pobre

Ele é este ser coitado

De ser economista no churrasco

De ser reciclador de garrafa e frasco

De ser sommelier de cerveja

De ser diplomata no ora veja

De ser juiz das próprias cagadas

(Ele caga e anda para o que você acha.)

De ser malabarista ideológico

De ser historiador dos seus medos

De ser explorador do tardar e do cedo

De ser contador de botequim

De ser pierrot e arlequim

De ser vítima dos desejos

De ser poeta dos próprios beijos

De ser corredor de cem metros rasos

(Para pegar a condução sem indução.)

De ser um religioso inconteste

De ser analista da vaca que foi pro brejo

De ser quase tudo um pouco

De ser xamã quando se vê rouco

(Foi fazer um chá para garganta e para alma.)

De ser humorista da desgraça

De ser pugilista da carne fibrosa

De ser enxadrista da situação indecorosa

E de decorar as frases mais idiotas

Para fazer graça onde o desespero procede.

O maior dilema do pobre

É não ter percebido

Que ele fez da própria realidade

Afinal de contas

Um conto de fadas

Uma piada pronta

Ele acaba morrendo

Rindo e se fudendo

Pode não parecer polido ou educado

Mas da vida ele porta o pós-doutorado.

O Dissecador
Enviado por O Dissecador em 01/04/2016
Código do texto: T5592096
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