O Pobre
Ele é este ser coitado
De ser economista no churrasco
De ser reciclador de garrafa e frasco
De ser sommelier de cerveja
De ser diplomata no ora veja
De ser juiz das próprias cagadas
(Ele caga e anda para o que você acha.)
De ser malabarista ideológico
De ser historiador dos seus medos
De ser explorador do tardar e do cedo
De ser contador de botequim
De ser pierrot e arlequim
De ser vítima dos desejos
De ser poeta dos próprios beijos
De ser corredor de cem metros rasos
(Para pegar a condução sem indução.)
De ser um religioso inconteste
De ser analista da vaca que foi pro brejo
De ser quase tudo um pouco
De ser xamã quando se vê rouco
(Foi fazer um chá para garganta e para alma.)
De ser humorista da desgraça
De ser pugilista da carne fibrosa
De ser enxadrista da situação indecorosa
E de decorar as frases mais idiotas
Para fazer graça onde o desespero procede.
O maior dilema do pobre
É não ter percebido
Que ele fez da própria realidade
Afinal de contas
Um conto de fadas
Uma piada pronta
Ele acaba morrendo
Rindo e se fudendo
Pode não parecer polido ou educado
Mas da vida ele porta o pós-doutorado.