Ângulo
 
Do meu ângulo, insano,
distorcido eu te percebia.
Duvidava de quem tu eras,
mas aos poucos entendia.

Tua imobilidade me movia,
na direção da tua guia.
Era o nada e o tudo,
mas meu coração não via.

Tua voz ausente estremecia
minha mente atordoada e sem foco.
Mas quando eu te olhava, não via,
era o ângulo que distorcia,
tua face, tua sombra, tua vida.

Debrucei-me, então, sobre teu peito gelado.
Era gesso desenhado, esculpido e trabalho.
Não ouvi teu coração pulsar, nem mesmo ofegante estavas.
Mas quando percebi, era eu quem suava.

Sentia teu respiro em mim,
teu coração no meu peito pulava.
Percebi que o ângulo que eu via,
distorcia quem tu eras e onde estavas.

Procurava fora, quem estava dentro -
no gesso frio e inerte que repousava.
Foi quando o ângulo do olhar desfez, senti;
era mais olhado do que olhava.

Photo by Sérgio Medina