Gaiola

Tão triste ver a bela entristecida,

Pela opressão do pretenso dono;

Cuja insegurança traz convertida,

Em ameaças, renovando feridas,

Indesejável, qual insônia ao sono...

Os carinhos fenecem, após tapas,

doces falas não matam amargura;

e o brutamontes com belas capas,

vai desamando cumprindo etapas,

e mais perde, quanto mais, segura...

Areia fina que se esvai da sua mão,

Nem discerne, apenas, tenso aperta;

Desconhece o que prende coração,

amor verdadeiro, é sim, uma prisão,

onde ficamos livres, de porta aberta...

As feias penas da ave em sua gaiola,

Quando voar de novo refarão alinho;

E o medroso valentão irá pra escola,

Para desfazer a essa perversão tola,

De achar que força, mantém o ninho...

Que pena que escapem as verdades,

Aos que só aprendem após entraves;

Do amor inteiro encontram metades,

Pensam que são cantos entre grades,

Pois, desconhecem o choro das aves...