Sombra
Esta sombra sou eu,
Retrato em preto e branco que só mostra o que importa.
E o que importa sou eu.
Uma silhueta numa parede envelhecida,
Faz-me lembrar da minh’alma desgastada por um mundo cruel.
É melhor a sombra, pois ela esconde as lágrimas e o rosto entristecido.
É tarde da noite e eu a caminhar pelo coração de Lisboa,
Refletido nas paredes por onde passo está esta sombra que me persegue.
Nestas mesmas calçadas por centenas de anos também passaram poetas seguidos por suas sombras.
A sombra irreconhecível é o reconhecimento de que se está vivo.
Um dia este meu corpo arderá em câmara quente e com ele morrerá a sombra,
Que em fumaça e pó deixará de ser.
Continuarão a existir as mesmas calçadas,
Continuarão a existir as mesmas paredes,
Continuarão a existir poetas e havendo poetas sempre há de existir Lisboa.
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