Muleta Poética

Cão que abana o rabo: poesia canina.

Pardal que coça o sovaco: poesia de pássaro.

Flor exibida no ipê: poesia de flor.

A maior poesia é a de quem faz o que nasceu pra fazer.

O poeta é cachorro cotó,

Pardal mandrião,

Flor incolor,

Deficiente existencial.

Usa pra muleta palavras e rimas.

Só de ser poeta já deixou de ser o que nasceu pra ser:

Tinta.

Prefiro ser poeta, fazendo panquecas,

Engraxando sapatos,

Faxinando o corredor.

Prefiro se poeta, indo ao cinema

Com meu amor,

Regando com malte

A conversa em mesa de bar.

Prefiro ser poeta, sendo pena na mão do Criador.

Fazendo o que me mandou fazer

Quando me criou:

Vida e amor.

(Brasília, janeiro de 2016)