É próxima a partida para o limbo
perto da partida se colhem os frutos
podres,
perto da partida se fazem as
promessas de um além metafísico
belo e sublime,
perto da partida se olha de uma
forma muito mais profunda e
contemplativa, diferente do que
olhastes durante todos os anos,
perto da partida descobre-se
as lágrimas sinceras, o que é
deveras uma surpresa silente, intempestiva,
perto da partida sente-se o coração
a bater num ritmo que nunca havia
se manifestado antes,
perto da partida entende-se que
o que vem agora é a partida,
é a despedida,
é o abandono dos hábitos e
o processo de acostumar-se com a falta
deles,
perto da partida já sentes saudades
do que ainda jaz ali, à tua frente,
porque não percebestes que era real,
porque dormistes por tempo demasiado
na varanda dos teus dias, deitado na
rede velha e torpe do ego,
conjecturando linhas por sobre os rostos alheios, linhas que marcam feridas, linhas que marcam a morte,
perto da partida, agora,
de sua partida para o velho sonho
do interminável limbo,
sereno e triste e belo,
pensas que se acordasse e fosse
um sonho, talvez fizesse tudo
exatamente do mesmo modo