Surfistas

Eu rio vendo esse insano desfile, ágil

que tenta reinventar a matemática;

filosofia sóbria escondendo ao frágil,

que bem sabe sua debilidade prática...

O vigor alugado das mentes alheias,

E o Shrek esquece sua sina de ogro;

Finge massa cinzenta entre orelhas,

na próxima página assoma o logro...

Saber vero demanda ferida, sangue,

tempo, esse professor, tão demodê;

uns acreditam em baleia no mangue,

digo, na sapiência control c, control v...

Não que não bebamos noutras fontes,

Saber de quem sabe mais, essa é a lei;

O perigo é vermos ilusórios horizontes,

não posso ensinar o que ainda não sei...

A coisa não é ser, parecer já é relevante,

amigos distantes aplaudem “conquistas”;

posar pra foto, ante foto de onda gigante

e sentir-se o bam-bam-bam dos surfistas...

Prefiro uns tombos, até beber do oceano,

Que fingir com fúteis cartolas modernas;

Se, parar em pé na prancha, sem engano,

Há de ser equilibrado nas próprias pernas...

Que mal passar adiante sapiência alheia,

De um jeito ou de outro, alguém a recebe?

Como oferecer a outrem a cura que anseia,

Com remédio que o pretenso são, não bebe?

Aí, sou desmancha-prazeres ao que me toca,

Por ver tal “sabedoria” com tanto ceticismo;

Porque, falar o que ouviu dizer é mera fofoca,

Ensinar o que a gente aprendeu, é altruísmo...