O príncipe e a raposa
Se é vero que palavras belas chovem,
Acho que ando evitando à dita chuva;
certos anseios poéticos, nos movem,
carentes das gotas, pra que renovem,
não há vinho, quando fracassa a uva...
Detesto poetar à força, é indecoroso,
até temo que a inspiração me exclua;
se, deve ser suave fica feio, o forçoso,
prefiro poesia olhando, olhar amoroso,
pedindo de modo tácito que a possua...
Mas, falta chuva e o flerte não assoma,
que, bons ventos, breve estejam perto;
pra que a alma extravase à sua redoma,
por ora, até cenário avesso pra si, toma,
Pequeno Príncipe e a raposa do deserto...
Na verdade, a alma inspirada acha oásis,
Ate chegar, claudica bebendo dos cactos;
sob a sombra ela e o poeta fazem pazes,
e voltam a pintar aquarelas mui vivazes,
primem inércia sob vigorosos impactos...
Sei, esses desencontros não só comigo,
Quem tem alma sabe, como a sua está;
Poderá dizer de modo melhor que digo,
tem horas que é flexível, haste de trigo,
outras, rígida e grossa, tronco de baobá...
Talvez, por causa do esfriamento global,
que pouco a pouco desfaz o calor da arte;
excesso de robotização no espaço sideral,
vem matando a poesia, sobra só o metal,
velho poeta virou walking dead, destarte...