Onde está Deus agora?
Onde está Deus agora?
Talvez Deus seja um vento,
uma brisa invisível que nos acaricia o rosto,
um sopro que move a paisagem,
aquele assovio que entra pela janela,
nesse mundo tão cheio de ódios,
meninos armados com metralhadoras,
infâncias roubadas por egoísmos cegos,
lutando em guerras sem um fim,
tolhidos em seu porvir,
condenados ao esquecimento,
relembrados apenas em notícias efêmeras,
ostentando o punhal de grandes nações,
cravados de balas em seus sonhos,
deixando de ser crianças para obedecer,
morrendo para o viver de indústrias bélicas,
sofrendo para enriquecer políticos internacionais,
nadando na contra-corrente da desumanidade,
perguntando "Onde está Deus agora?"
o livre arbítrio de outros não é o suficiente para explicar,
para consolá-los sobre a fome, a miséria e a indigência,
a religião como oração não muda suas vidas sacrificadas,
quando são crucificados todos os dias em pilastras atuais,
derramando seu sangue para a ceia de quem os ignora,
mantendo fiéis que lotam templos para seu próprio consumo,
usando-os como catarze de suas mediocridades,
buscando sentirem-se melhores com suas casas e famílias,
tão distantes daqueles que perdem dias e noites,
daqueles cujas lágrimas são eternas e sem hipocrisias,
perguntando "Onde está Deus agora?"
Porque acreditar em uma nuvem que não faz chover?
Porque crer em um furacão que permite tanta destruição?
Porque esperar a bonança que só vem para alguns?
Como sonhar com um mundo melhor enquanto tantos pagam o preço?
Talvez Deus seja mesmo apenas um vento,
que marque presença derrubando um coqueiro,
chamando atenção para a força da natureza,
deixando que a humanidade finde em seu caminho,
sem jamais responder "Onde está Deus agora?"