Cara suja de meu irmão
A cara suja de meu irmão A Luís Henrique
Cara de lama e suor
Minha outra face olvida
Lépida, imberbe límpida,
meu sangue em forma de sangue.
A cara suja de meu irmão
é a pluma mais clara,
o espelho do antes.
Na cara suja de meu irmão
Eu sou constante.
Hoje minha cara sem lama
Inóspita, crua e distante.
Esse tal transe
de cordas que laçam o tangível,
o perecível se perde
nas lacunas lubricas de espera
pelo troco da vida.
Minha febre é fraca
Todo instante é pouco
Melhor a cara suja de meu irmão
que é pura, leve e vibrante,
Como as pálpebras dos anjos
Loiras com olhos de luz.
Meu corpo é sujo e fajuto
Sou a demora do amar de antes
A cara suja de meu irmão
Com os olhos que a vida não murcha.