Removendo montanhas
O tempo amontoando terra no vale dos ossos,
Os nossos, que nos deixam no vale de lágrimas;
Apegos das almas que acabam em destroços,
O Vesúvio dos desenganos, cospe seu magma...
Ganância amontoando ouro em paraísos fiscais,
Prende os migrantes do Paraíso que foi perdido;
A serpente não mais dissimula, pois, entre iguais,
Festejam os comensais, do antigo fruto proibido...
Mentirosos amontoando argumentos a incautos,
Que cultuam fiéis ao, “me engana que eu gosto;”
Cada vez mais longe a fonte onde bebem os autos,
quem tem culpa, poder; quem dinheiro, impostos...
Resignados amontoando queixas a ouvidos moucos,
A dor de se encenar nesse vasto teatro do absurdo;
Impingem-nos todos os dias os figurinos de loucos,
Os poucos que restam são denegridos pelos “surdos’...
O poeta amontoando anotações desde seu mirante,
Com seu pelo assim, esquisito, não forma tropilha;
À fogueira das vaidades, não arrefece um hidrante,
Só o magma aquele, na erupção do tempo, apresilha...