A vida da janela
Da janela do meu quarto eu vejo .
Ocarro voar.
O pássaro andar .
O homem se rastejar.
Tudo flui contínuo .
Sem ao menos sair do lugar .
Da janela do meu quarto eu vejo .
O cego batalhar .
O que vê apedrejar .
O mudo gritar .
O que fala se calar.
O surdo se encantar .
O que ouve se ausentar .
O rico sonhar .
O pobre conquistar .
Da janela do meu quarto eu vejo .
Os quatro elementos .
O choro .
A fúria .
O desprezo .
E a lamuria.
O humano em seu ser .
Em seu compromisso de morrer .
Da janela do meu quarto eu vejo .
A rua se alongar
E no horizonte se apartar.
O vizinho viajar
Para longe de seu lugar .
O gato escapar
Para o mundo conquistar .
A nuvem se dissipar
Com seu ciclo perpetuar .
E a vida sempre a passar
Para o destino além do mar .
Da janela do meu quarto eu vejo.
A folha se desprender.
Para seu futuro conhecer.
Encontrando outras árvores para enaltecer.
Voando até copa de ipês.
Até se assentar no solo e padecer.
Da manhã desse dia a janela do meu quarto se abriu.
O mundo vasto e belo a mim se fundiu .
Metade de meu crepúsculo então se abriu .
Porém nada será esquecido do que se viu.
O universo de minha janela fluiu como um rio .
O laranja anis da tarde se escurece .
O véu da noite está a cair .
E minha única lamuria é de que minha janela nunca mais podera se abrir.
Da janela do meu quarto eu vi.