Inquietudes

Há dias, que o sal não detém o conhaque,

E o baque de ser só, nossa alma estilhaça;

O corpo sob o álcool fraqueja ao ataque,

O abrigo desabriga, rui, o buscado bivaque,

Os fatos desafinam, do que o sonho traça...

Dias que ansiamos cambiar de praça, toca,

deixar o cenário de pretéritos desenganos;

mesmo se, nenhuma ventura vier na troca,

apenas porque, diverso cenário olhar foca,

mudando casca, que mudou, devaneamos...

Há dias que não estamos no nosso dinheiro,

Digo, que dinheiro besta não vale uma bosta;

Pois, olhamos de soslaio ao valor verdadeiro,

E desprezamos resolutos, o Fado meio inteiro,

Quando, tete a tete, a desventura nos arrosta...

Há dias, que fraquejamos, ou, peso, pesa mais,

Que chutaríamos o balde, até com tinta verde;

dias que os anjos são substituídos por animais

naturalmente, as nossas coisas ficam desiguais,

dias em que, não se acham,o descanso e a rede...

tem dias em que se fundem o fim e o começo,

e de nada valem as astúcias de raposa felpuda;

dias que a insanidade nos perverte o apreço,

e aconselha que devemos mudar de endereço,

diz que, mudando isso, o sentir também muda...

ah, esses dias de desencontros, e inquietude,

erram, os que pensam, que os dias são iguais.

Pois, certas horas dói muito mais a solitude,

E há uma batalha disfarçada sob a quietude,

Tem dias, pois, que carência carece bem mais..