O espelho

Do outro lado, vi-me no espelho
Atraente, faces rubras. Pele bronzeada
Riso solto, olhar incerto com receio
De me fugir dessa imagem rosada.

A realidade, porém me convidou a ver
Uma face mais pálida, uma pele mais clara
Sem o riso de outrora e outro olhar a envolver
Um mundo concreto, cuja imagem não fala.

O frescor da beleza viajou com o tempo
Esvaiu-se a graça da infância perdida
Que o meu interior erigiu como estátua
Para viver da lembrança querida.

Sentimentos narcisistas ficaram para trás
O mundo ensinou-me a ver de olhos abertos
Para não me perder no fantasma que só faz
Angustiar e aprisionar pensamentos concretos.

Mena Azevedo