O trepidar das palavras e dos aplausos

O trepidar das palavras e dos aplausos

Aplausos cortantes

corroem as palavras,

provocam ruídos,

perturbam meus ouvidos.

Sons que tentam me aprisionar,

impedindo-me de sentir

o que as palavras revelam.

Não desejo que os ventos

os tragam, sem que com eles

venham minhas incertezas.

Antes quero ver escancarada

a realidade do meu eu,

refletida em vestes normais,

gestos repensados a apontar

todo o limite do meu

campo de visão.

Se dúvidas me assaltam,

apesar da certeza que acompanha

meus passos, marcados no cinzento

espaço onde habitam,

onde encontrar as revelações?

Não gostaria que em meio

aos aplausos, as águas que saltam

do meu interior, ficassem contidas

em pequenos cântaros,

quando há um oceano

a ser desvendado.

Encantam-me as palavras

transparentes inundando

as mentes.

Corredeiras libertas,

enxurradas de pensamentos

precipitando-se em meus sentidos,

como fontes que não

podem ser contidas.

Mesmo que as palavras se desviem

do caminho das águas,

ofuscadas pelos aplausos,

em meu silêncio gero o esforço

para que não se percam

no labirinto onde os

ruídos vagueiam.

Importa-me aonde vão minhas palavras,

diante dos enganosos aplausos.

Mesmo que atraquem em algum porto,

hão de apontar o caminho

e desenhar novas paisagens.

Mas de antemão anuncio

que ao verdadeiro eu retornarei,

pois haverá sempre uma voz

determinando o caminho.

Para que eu veja o sentido das palavras

abraçadas à razão e a emoção

no encontro das ideias,

não preciso dos aplausos.

Se não me permito que brotem

como as flores na primavera,

não tenho como desejar

que saltem dos meus lábios

e povoem minhas mãos.

As palavras deslizam sobre a terra,

os aplausos se desfazem ao mover do vento,

rodopiando com desavisados sentimentos.

Quem as escreveu saberemos.

Mas as mãos que aplaudem

se perdem na imensidão,

sem destino e sem avisos.

Os aplausos ferem as consciências lúcidas,

plantadas nos rochedos,

submersas nos espaços

das inquietações.

As palavras explicam

e saciam a fome do saber.

Os escritos eternos afugentam

as dúvidas e as passagens

que as desavisadas palavras

queiram anunciar.

Não procuro os aplausos vadios,

marcados pela hipocrisia

que tanto execro, desprezo,

aplausos soltos numa torrente de sons

melancólicos, atemporais.

Não desejo ser conduzido

a um falso pedestal,

mesmo que erguido na praça de

minhas memórias,

desafiando o meu pensar,

na pulsação dos meus sentidos,

no sacudir de minhas entranhas,

enraizada nos meus medos.

Quem dera ter a força necessária

para expulsar esses desvios

exageradamente aderentes?

Assim, distante dos sons

dos aplausos enganosos,

falsos, vazios,

as verdadeiras palavras,

plantadas em terra firme,

sabiamente eu

encontraria.