A vista do ponto de vista
De acordo com Mario Quintana
Quem faz um poema abre uma janela
É aí que ele se engana
Pode até parecer um dilema, mas
Quem abre uma janela faz um poema
Eu gosto de olhar para fora durante a madrugada
Fico ali imaginando, deixando a minha mente inspirada
O silencio absoluto da rua e da calçada, e de repente
Fogos de artifício explodindo de forma inesperada
Um morador de rua, solitário, andando na contramão
Se desse tempo eu descia e ia lá pra lhe dar um pão
Cantando pneu vem vindo um motorista embriagado
Não imagina quantas vidas põe em risco nesse estado
O quarteirão inteiro consegue ouvir o vira-lata latindo
Mais um acordado enquanto todo mundo está dormindo
No parque, o campinho, todo acabado, com as luzes ligadas
Sempre acesas! Não tem jogo nem de dia, imagina nas madrugadas
Silêncio absoluto, só da pra ouvir um carro e seu motor
Maldita insônia! Vejo um prédio comercial e ouço seu gerador
Lá vem ele, o caminhão de lixo e o seu barulho noturno
O bairro todo dormindo e os funcionários no turno
É época de natal: enfeites e luzes chamam a atenção
Só pra quem não dorme e está olhando a decoração
Iluminando as paredes, muros, e prédios, surge uma sirene
Até parecia, mas sua expressão não era nada solene
Talvez a janela seja uma metáfora da vida
Que nos mostra diversos pontos de vista
Eu uso das suas figuras de linguagem para me expressar
Ao invés de ficar assistindo por ela a minha vida passar
Talvez a personificação daqueles fogos de artifícios
Seja os sorrisos que recebemos no dia-a-dia de desconhecidos
Continuo acompanhando o andar do mendigo
Não me leve a mal
Nunca é tarde demais para levar o pão de trigo
Ele ainda nem chegou à radial
Talvez o campinho seja um paradoxo, o qual eu faço jus
De que no fim de todo túnel existe sempre uma luz
Talvez o caminhão de lixo seja um eufemismo pro seu ego torto
Enquanto você descansa, tem gente trabalhando pro seu conforto
Talvez a sirene da ambulância seja uma metonímia que se faz
Pois para muitos o dia de amanhã é um dia a menos
Mas pra quem está lá dentro será um dia a mais
Talvez a janela seja uma metáfora da vida
Que nos mostra como enxergaríamos melhor
Se olhássemos tudo de cima