PAZ

Queria estar no avião que caiu

No carro que bateu

No prédio que tombou

Queria estar no posto que explodiu

Na ponte que cedeu

No barco que afundou.

Queria ser o corpo que sumiu

Ser a criança que a mãe nunca achou

Queria ser o amado que partiu

Ser o infante que alguém abortou.

Queria ser o fruto apodrecido

A árvore morta

A carne putrefata

Queria ser o amor esquecido

E a ave torta

Que queimou na mata.

Queria ser o ferimento aberto

A amputação

E o olho perfurado

A operação que nunca dará certo

E o coração

Que agora está parado.

Queria ser aquele homem bomba

Que explodiu e virou mil pedaços

Queria ser a escuridão, a sombra

E os pés correndo nos vidros, descalços.

Queria ser o mal que me fizeram

E todo choro que engoli em seco

Queria ser os maus que ainda lideram

E a entrada do escuro beco.

Queria ser toda perversidade

Queria ser o toque de maldade

Queria ser o preconceito, o racismo

Queria ser o golpe militar

Queria ser o que te fez chorar

Queria ser a guerra e o nazismo

Queria ser a fome arrasadora

Queria ser a peste matadora

Queria ser a dor e o pessimismo.

Queria ser todo mal que existe

Queria ser o que te deixa triste

Queira ser a origem do mal

Queria ser a ganância, a arrogância

Queria ser a dolorosa distância

Queria ser a doença fatal.

Pois se eu fosse tudo que há de errado

Se todo mal em mim estivesse concentrado

Se eu fosse o carrasco, o Barrabás

Eu faria um grande bem à humanidade

Eu partiria sem deixar saudades

E enfim o mundo viveria em paz.

Weverthon Siqueira
Enviado por Weverthon Siqueira em 07/12/2015
Reeditado em 07/11/2021
Código do texto: T5472984
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