Pedigree
A vista buscando inocentar um bandido,
Mas, bom siso, promotor, evoca o ouvido;
Lembra que, aparência não merece atenção;
Aliás, João, o apóstolo foi quem viu primeiro,
Um animal belo com chifres de um cordeiro,
Que, quando falava, porém, parecia dragão...
A máscara busca turbar qualquer conclusão,
É apenas essa que se engana, aparência não;
Pois, se apressa, tendo as suas vistas cheias,
A deixar sobriedade de lado, bem no chinelo;
Assim, faculta o esconderijo das almas feias,
Na efêmera e frágil casca, dos corpos belos...
Mesmo ouvidos podem ser presos no enleio,
De um palrador experimentado nos floreios;
Mas, as entrelinhas que sublinham à verdade,
Que pode escapar, é vero, ao que picardia falta;
Contudo, arrogância com a capa da humildade,
parece de minissaia, por ser, muito mais alta...
De tanto receber às corujas como se, papagaio,
Na patranha do verde, juro que não mais caio;
Resulta um duro aprendizado, módico consolo,
Melhor; discernir às almas já não é coisa pouca;
Se o silêncio, disse o sábio, dá certa aura ao tolo,
O tolo com pedigree, não sabe como calar a boca...