Nós, menino
E das asas do tempo
nasceu um menino
que sorria com os olhos
beijava com as mãos
dos lábios vertiam palavras
açucaradas banhadas em mel
Tamanho era o bem que fazia
que vieram homens
de preto de branco de longe
estudar o menino
Tiraram-lhe os olhos
deceparam-lhe as mãos
costuram-lhe os lábios
feriram-lhe o coração
Foi-se o menino
ficaram-se os homens
E em dia que o tempo
passava sem pressa
uivaram os ventos
quebraram-se as ondas
fez-se solidão
Por descuido ou ordem divina
no infinito céu da memória
entre grades de prata
guardamos nosso menino
Despercebidamente
ou deliberadamente
deixamos-o escapar
no silêncio de um sorriso
no exato momento
que permitimos nossa alma
a ser, de novo, criança...