Bilhete mortífero

E de repente a saúde.
Não nos planos que sonhei,
mas nas condições que meu corpo suportava.
De repente, a gratidão,
por eu ter sobrevivido a tanta dor.
E de modo mais supreendente ainda,
senti quão ínfima é a vida.
A turbulência ensinou-me mais que as faculdades.
De incrédulo à devoção.
Do peito cheio de razão à dúvida mortal.
Da certeza da imortalidade à um pensamento morto.
Quem sou eu? Um ser que morre constantemente.
Morro para as minhas ideias fixas.
Morro para as minhas indiferenças.
Morro para a minha ganância.
Se sobrevivo é por consequência das escolhas certas.
Se morro é por falta de significante.
Doravante existo, menos que ontem e mais que amanhã.
Por certo morrerei, mais amanhã e menos que hoje.
De coração sincero, choro a existência.
Não que eu tenha falhado, foi mesmo prepotência.
Perguntam-me se tenho valor, respondo com veemência:
sim, dou trabalho, choro, canto, grito e faço,
não por obrigação, mas por pura delinquência...
se me controlam, reforço: aprendi a existir com a demência;
antes eu era tudo, até o tudo tirar minha essência.
Para você, amiga morte.
Valeu a paciência!
Fábio G Costa
Enviado por Fábio G Costa em 18/11/2015
Código do texto: T5452835
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.