A GENTILEZA
Eu não sofro porque a dor me vem,
nem por minha vontade questionada,
tão pouco, pela vaidade de minha certeza,
negada, destruída, achincalhada;
e nem meu choro, resultado do perdido,
e nem meu grito, o clamor de um esquecido,
não.
Se sofro, é por ter a ilusão da eternidade do amor;
que a lágrima pequena, no solo seco, faça brotar uma flor
a voz pequenina e infante, na silencie, à fome;
nutra algo de lindo, do lixo acumulado na sarjeta,
quando de uma mão solitária e coletora.
Hei de ser mais feliz, quando disto tudo, e mais;
algo talvez esquecido em algum beco escuro,
enxotado, feito gato magro e sarnento,
pelas buzinas da intolerante e monótona frieza
de uma cidade crua;
algo que só os invisíveis, veem, quando o pão cai,
e nada sobra, e só de vez em tempo,
da piedade perdida de alguma alma caridosa:
A gentileza.