A GENTILEZA

Eu não sofro porque a dor me vem,

nem por minha vontade questionada,

tão pouco, pela vaidade de minha certeza,

negada, destruída, achincalhada;

e nem meu choro, resultado do perdido,

e nem meu grito, o clamor de um esquecido,

não.

Se sofro, é por ter a ilusão da eternidade do amor;

que a lágrima pequena, no solo seco, faça brotar uma flor

a voz pequenina e infante, na silencie, à fome;

nutra algo de lindo, do lixo acumulado na sarjeta,

quando de uma mão solitária e coletora.

Hei de ser mais feliz, quando disto tudo, e mais;

algo talvez esquecido em algum beco escuro,

enxotado, feito gato magro e sarnento,

pelas buzinas da intolerante e monótona frieza

de uma cidade crua;

algo que só os invisíveis, veem, quando o pão cai,

e nada sobra, e só de vez em tempo,

da piedade perdida de alguma alma caridosa:

A gentileza.

Ita poeta
Enviado por Ita poeta em 17/11/2015
Código do texto: T5451279
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