Ouvindo conversas
...E conta o velhinho...
De olho triste molhado
Saudades do seu cantinho...
Que era tão sossegado.
...
Nessas minhas andanças
Já vi tantas crianças
Totalmente sem esperanças
De um dia no porvir...
Vi também aqueles jovens
Que tentando serem honestos
Trabalhando nos imóveis
Nas faxinas, mas com protestos...
Explorados pelos ricos
Que jamais os valorizam.
Não mais que meio salário
Lhes pagam sem um sorriso.
Entrando em uma ruela
Um belo ancião deitado
Ele estava baleado
Com um certeiro na goela.
Pensei socorrer...
Até registrar ocorrência...
Mas vi que jazia, morto.
Por que tanta violência?
Ao lado vi um moço...
Do rosto só o esboço
Pois que após lhe tirarem a vida
Ainda lhe destruíram o rosto.
Por que tanta maldade?!...
Será a ganância?
Ou talvez a ânsia
De se ter vaidade?!...
As vezes fico pensando...
Quem está por trás disso tudo...
Um malfeitor infeliz?...
Ou um poderoso posudo?!...
Tanto rico sofre...
Mas o pobre também...
O dinheiro preso no cofre
Não tem valor p'ra ninguém!
Penso que se o país varonil
Abrisse mais portas à cultura
Talvez houvesse a ruptura
De tanto momento hostil!
Infelizmente mandam os grandes...
Os pequeninos são pisados...
Não tendo oportunidades....
Ainda são espezinhados.
...E o velhinho simples, mas instruído diz:
"Que país é esse que Cabral descobriu?
Antes fosse coberto no 22 de abril."