BALADA PARA A BANCADA EVANGÉLICA
 

 Meu cordeirinho inocente
 Nessa cruz sobre o altar,
 Quem fez de ti o presente
 Que é preciso entregar
 Á um Deus tão incoerente?
 Ele nunca ficará saciado
 Do sangue da sua gente?
 
 Por que Ele terá deixado
 Que sua obra se perdesse
 Pelas mãos de um renegado
 Como se poder não tivesse
 Para evitar tal resultado?
 E depois quer consertar tudo
 Fazendo de ti o Sacrificado?
 
 Oh! cordeiro, não estranhas
 Essa filosofia tão grosseira
 Que exige as tuas banhas
 A queimar numa fogueira
 Para garantir novo começo?
 Quem te disse que eu queria
 Ser resgatado a esse preço?
 
 Cordeirinho do sacrifício,
 E se não fosse a Divindade
 Quem te deu esse ofício
 De morrer pela humanidade?
 Não é Ele o Pai da Luz?
 Por que havia de querer-te
 Estrebuchando nessa cruz?
 
 Sim, cordeirinho inocente,
 Perdoa esta minha heresia,
 Mas desde bem antigamente
 Já não houve quem vendia
 O teu sangue nos mercados?
 E não faz tempo que tua vida
 Vem pagando meus pecados?
 
 Oh¹ meu cordeiro inocente
 Que é sem mácula e sem vício;
 Se eu não fosse tão descrente
 Agradeceria teu sacrifício.
 Mas quem prega tais postulados
 Estão vendendo a tua carne
 Nas praças dos mercados.
 
 Meu cordeirinho inocente,              
 Ao ver o teu corpo exangue
 Como posso crer nessa gente
 Que tira lucro do teu sangue?
 Não fizeram de ti mero agente
 Somente para vender serviço
 A um povo pobre e tão carente?
 
 Oh! cordeirinho inocente,
 Ao te ver assim tão mutilado,
 Penso na dor que ora sentes
 Por estares sendo assim usado.
 Se pudesses, dirias certamente:
− Hei! Vamos parar com essa farsa:
 Cansei de ser a teta dessa gente.