Quem sabe um poema depois
 
QUEM SABE UM POEMA DEPOIS
quem sabe um poema depois
que a cerveja acabar
que o calor passar
que o telefone tocar
que o gato comer
que o cigarro acender
que a casa limpar
que o livro ler
que a música tocar
que a mãe melhorar
que a irmã se acomodar
que a TV desligar
que a vizinha esquecer
que o inverno chegar
que o poema nascer
e que a palavra soar
tão simples como o ar
tão grande como o mar
tão forte como a ventania
mais fácil que a liturgia
de querer reinventar
o silêncio, o murmúrio, o balbucio
e tudo não for somente o óbvio
e de poesia se viva, se coma, se beba
e o verso seja tão lindo
que ninguém jamais esqueça
de esquecer ou de lembrar