Devem ser poetas os que querem
Devem ser poetas os que dizem.
Muito mais poetas os que mentem.
Sei que são e tão como os que vivem,
pois apalpo a carne que eles sentem.
Devem ser poetas os que querem.
Muito mais poetas os que forem.
E se rasgam o papel como se ferem,
perco as contas das linhas que entristecem.
Devem ser os poetas como enchentes,
encharcados de dor mais do que cabem;
e se ousam do amor mais do que sentem,
é o amor, por mentir, mais do que calem.