Praga benigna

Não dá para não ter esperança,

criança parasita, como os vermes;

sem, sequer música entra na dança,

e a seta dos devaneios presto lança,

tem asas como as botas de Hermes...

Sempre que nosso frágil fio viramos,

logo se dispõe com a gratuita chaira.

Vai na frente e serviçais seus, vamos,

Nega-se a descrer do que abortamos,

Ela voa, mas, no fim, a gente que paira...

Uns resignam-se ao que dizem, karmas,

Achando-se meros pacientes do que vier;

Ela nos acossando de todas as formas,

Faz mais que ser uma pajem de armas,

Pois, luta pelo guerreiro que não quer...

Assim, sempre que o desalento estraga,

Ela vem solícita com seu insano cogito;

Estaciona a nave mesmo não tendo vaga,

Enxerida, pois, esperança é uma praga,

Que não destrói, antes, salva o Egito...