Fermento
Tentei desfragmentar a memória,
Pro disco dispor de melhor espaço;
Mas, recusa ser compacta a história,
Que quando foi atual, alargou passos...
Mesmo o que foi lançado na escória,
Por ter feito os vidros dos olhos, baços,
Desafia o fraco esquecimento à vitória,
Sabendo que o velho verá o fracasso...
Pois mesmo a sina mais que inglória,
Que herdamos de algum erro crasso,
Não aceita essa redoma simplória,
Inda abarca muito com o seu abraço...
Presume ser qual a rainha Vitória,
Ainda que, reles plebeia, eu lha faço;
Morar no cafofo da ternura, sua glória,
lembrança tem asas, não cabe em maço...
Se a tentativa não foi assim, meritória,
Rendeu certa luz, no apanhado que traço;
Saudade é fermento no pão da memória,
Que cresce ainda mais, depois do amasso...