Voo molhado

Essa sina de um cavalo alado,

fazendo invejar aos pangarés;

Que pastam em verdes prados,

Tendo seus anseios realizados,

É vida, vista por um duro viés...

A paz falsa da mediocridade,

Mesmo que simulacro, é paz;

Ou, entorpecente, na verdade,

Mas, ante uma dura realidade,

essa droga finge, que satisfaz...

Olhos não veem, coração repousa,

Aí, os cegos tem mais descanso;

Que outro que vê a vida na lousa,

E a arrancar sua venda inda ousa,

Soa iracundo, e deveria ser manso...

São insensatos o aplauso e a vaia,

Só identidade, dos plebeus traços;

Que desconhecem o que se ensaia

Pois, furtam a trombeta do atalaia,

E aparelham a fanfarra de palhaços...

O sangue da lua nessa noite escura,

É ignorado que vale a cor da caneta?

Vale a saciedade vã que se procura,

No vasto carro alegórico da loucura,

Enquanto rota, Sophia erra na sarjeta...

Não se pode cambiar a sorte, contudo,

Deus escolhe o nosso fogo e as brasas;

Que a plebe prefira o discurso do mudo,

Damos nossos pitacos, e além de tudo,

chuva e granizo, a machucar-nos as asas...