NUVEM

Eu sou uma nuvem que passa,
Por sobre uma rica paisagem.
O silêncio é quem me segue
Inconteste, na passagem. 

Nasci de um vapor soprado
Muito inesperadamente
Por um vento já tardio,
E quem sabe, indesejado.

Cresci sempre pelos cantos,
Inventando meus azuis
Sem que ninguém desse conta,
Achei, nas trevas, a luz.

O que eu tinha a dizer
-Quase sempre, ignorado
Por ouvidos sempre surdos
E olhos sempre fechados.

Tentaram cortar minhas asas,
Relegaram-me a um chão
Por onde eu só me arrastava
Sobre os joelhos e as mãos.

Por muitos e longos anos,
O meu nome eu assinava
Sobre as linhas pontilhadas:
-Nada, Nada, Nada, Nada!

Alguém bateu à minha porta,
E pegou-me pela mão,
Ergueu-me daquele chão
No qual eu vivia morta.

Apontou-me um céu azul,
Soprou-me em nuvem tão leve,
Ensinou-me a flutuar,
A pairar sobre o que é breve.

E os que sempre me negaram
Continuam pelo chão
Os olhos sempre fechados:
-Não me viram, nem verão...






A gente passa metade da vida se iludindo a respeito de pessoas e coisas, dando importância ao que pensam de nós, aos lugares aos quais nos relegam, tentando agradar, ser útil e ser aceito. Graças a Deus, posso dizer que passarei a outra metade da minha vida livrando-me destes grilhões aos quais chamam "laços", mas que só apertam de um lado - o mais doloroso. Quero ser como uma nuvem: leve, vaporosa, pairando acima, tão frágil, que pode ser desmanchada por um vento brando. Mas o hálito desse vento será o de Deus, e nunca mais o de seres humanos.


 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 30/09/2015
Reeditado em 30/09/2015
Código do texto: T5399349
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