Emigrantes

Às vezes a alma abandona seu corpo,

Que sofre o peso pesado dessa leveza;

Não como quando ele deita-se, morto,

Mas, mero zumbi, um existente absorto,

na privação árdua de paz e de certeza...

Nenhuma ajuda lhe faz o menor sentido,

Se o fogo anímico não for de novo, aceso

Alma adultera, envergonha o seu marido,

Que ruma pro seu calvário entristecido,

Cirineu, invés de um ombro, oferece peso...

Quem sabe ler esse sombrio cenáculo,

Mesmo que em Baille, no escuro assento;

Entende tal recado como de um oráculo,

Se a nuvem sai de sobre o Tabernáculo,

Moisés deve levantar o acampamento...

Destarte, nada valem a sombra ou a rede,

Se a seta aponta pra além do horizonte;

A um ser alado não detêm meras paredes,

Não mais preza a costumeira água, a sede,

Se, rompe o casulo ansiando nova fonte...

Quando ventos assim fazem arder a brasa,

Circunstância e anseios, meros desiguais;

Aumenta a praia sempre que a maré vaza,

E quando psique decide deixar a sua casa,

Resta permitir que o corpo siga-a, atrás...