Poema noturno
O vento ruge nas janelas.
Lá fora, a Lua está ao alcance das asas,
E as árvores gemem em pálidas folhas.
Cá dentro, Raimundo ressona,
Sem rima, sem vastidão,
Inexistente em sua lágrima.
Os óculos repousam sobre o criado-mudo,
O violão guarda a magia dos dedos nas cordas, e
Os fios brancos descansam no travesseiro peludo.
O crocitar da coruja emana das árvores que gemem
Pela noite, naturais como o próprio ar,
Ardendo hegemonicamente como ninguém.
As estrelas caem em brilho
Enquanto Raimundo, vazio,
Venda profundamente seus olhos.
A realidade o havia contaminado
Com seu furor pragmático, e
Seu calor intrínseco havia partido.
Dorme Raimundo com seu esquecimento,
Próprio dos sonhos frios de ascensão capital,
Dentro de lençóis gradeados por desolamento,
Enquanto a noite envolve as almas cândidas
Com seu lúgubre invólucro angelical,
Fazendo a poesia penetrar as veias através das estrelas.
*Texto classificado entre os quinze melhores do VII Festival Aberto de Poesia Falada de São Fidélis-RJ.