A FUGA DOS DESESPERADOS
Como dormir em paz, meu Deus,
Deste lado do planeta,
Se lá pelo Oriente Médio, Norte da África,
Milhares, milhares sem conta,
Abandonam suas casas,
Deixam para trás seus pertences,
Juntam seus familiares,
Seguem sem rumo, sem nada,
Numa luta desmedida,
Para preservarem a vida?!
Como dormir em paz, meu Deus,
Se as telas da TV e das redes sociais
Mostram Aylan naufragado
E transformado em imagem-símbolo dos desesperados?!
Junto ao Aylan naufragado,
Outro irmãozinho e a mãe,
Das mãos do pai desgarrados,
Também pelo mar tragados,
Tudo porque desejaram
Um país que os acolhesse
E em que pudessem viver,
Longe do próprio país,
Onde a guerra e a fome,
O fanatismo do homem
Condenaram-nos a morrer?!
Como dormir em paz, meu Deus,
Enquanto famílias se jogam nos trilhos
Por onde partiu o trem que os levaria?!
Por que foram tão duramente barrados?
Por que foram impedidos de buscar a luz,
Se a terra própria se converteu em trevas?!
Ah, se as portas dos países em paz
Se abrissem como os braços do Pai!
Ah, se mundo se abrisse em acolhida
Ao desespero que ambula sem rumo,
Buscando um cantinho seguro para se aninhar!...
Junto com Aylan, o irmãozinho e a mãe,
Junto com o desespero do pai,
Junto a outros milhares de desesperados naufragados,
Naufraga também o mundo que se diz humano!...