Parto normal
Essa dificuldade de vermos a realidade,
Quando sob a bela maquiagem do engano;
Diminui um tanto com o curso da idade,
Mas, ainda vulnera-nos, a bem da verdade,
Ah, quão frágil é o discernimento humano!
O coração doidivanas e seu uísque importado,
De muito além das fronteiras do bom senso;
Embriaga a razão com o que está embriagado,
Seu berrante dispersa, antes que reunir o gado,
Digo, sob seu domínio, mais sinto, que penso...
Quando assoma o vácuo do sentimento reverso,
A razão de ressaca consegue firmar-se em pé;
o “amor” que o bêbado cantou em prosa, verso,
agora é só mais um novilho da manada disperso,
difícil admitir, se, a deusa sonhada nega nossa fé...
vergonha macera nossa faceta de besta, animal,
por termos suposto encontrar caroço em banana;
como é palatável o que ansiamos, mesmo irreal,
filhos do desejo nascem fáceis, de parto normal,
a luz, só damos à luz, mediante uma cesariana...