Ainda Escrevo

Escrevo pois tenho que,

E quanto mais, onde me perco

Não me permito outro meio

Mesmo que aos poucos

Tudo possa desfarelar-se

Escrevo de teimoso

Tal como onda faz à praia,

Sem verdades guardadas

E o ranço da mentira no céu

Da boca.

Escrevo porque me afaga

Toda mão e toda lua

Toda inversão e toda a rua

Para que me deixe nu

Fitando a certeza na ponta da adaga

Ainda escrevo

Olhando as arestas, sempre podadas.

Mas ainda hei, só de namorar as madrugadas

Cessar a escrita e sussurrar serenatas

Ao ouvido do poeta, meu servo.