Se Quer, Faça!

É inaceitável que o homem

Pense que tudo pode resumir

Que tudo pode simplificar.

Se quer olhar para frente

Que mire seus olhos.

Se quer que seu corpo defenda

Que arme a guarda.

Mas se quer transformar sua história

Que espelhe as pegadas e mude de lado.

Se quer que a luz esmaeça

Que sopre a acesa vela.

Se quer que seu corpo amoleça

Que caia ao chão de onde estiver.

Mas se quer consumar sua proeza

Que escreva aquilo que der na cabeça.

Assim torna simples o mundo abarcar

Basta dizer o que vai ocorrer!

Os conselhos, coitados, obsolecem.

Ordenam dizendo-se tão razoáveis.

Negam-nos domínio, mas ditam-nos suas regras.

Que em cegueira caiam seus olhos

Se me vejo prostrado diante uma grade.

Que frente a lanças e chamas fique seu corpo vulnerável

Se me vejo perfurado pelos rastros das sebes espinhosas.

Que, ao invés de apagada, sua história seja explícita nua

Se meu futuro é incerto e sempre será.

Que a luz lhe ofusque a alma profundamente

Se o sol que ilumina me extenua a vida.

Que o fosso abissal lhe reserve seu túmulo

Se igualmente me aguarda meu leito mortal.

Que, por fim, lhe aclamem o teatro banal

Se as mentes se bastam sem que eu seja lido.

Em suma, são babacas deslavados

Almejando, em pretensão, a todo custo

Que seus sofismas encantem a donzela racional.

Se sabes que conhece sua própria trajetória

Só tu, é que entende os seus pormenores

Se nem este poema descreve-os completamente

Quem dirá bocas perenes sequiosas de poder?