Não me cansa ser dois
Essa angústia litorânea que vai e que vem com as marés,
faz parte da tempestuosidade dos polos invertidos,
que entristece o pouso e alegra a saudade,
mas faz parte de mim,
de você,
de todo mundo.
Não me cansa ser dois.
Pior seria viver preso num sorriso
ou represo numa lágrima.
Eu quero ser bi.
Eu quero chorar sorrir chorar sorrir chorar sorrir.
Eu quero demais acordar bem cedo pra ouvir o passarinho,
mesmo se depois eu for ficar de mau humor de tanto sono.
Ninguém vai entender,
mas é importante que saibam que eu não sou tão normal a ponto de ser sempre compreendido.
Eu quero correr da chuva,
beijar na chuva,
xingar a chuva.
Eu quero sempre dois,
sem precisar explicar a todo tempo qual de mim estou.
Eu quero ser bi.
Eu quero chorar de tanto rir da tua piada
e depois chorar de tanto amor na tua partida.
Eu quero gritar enquanto há tempo,
que eu tenho um puta tesão na vida,
mas que às vezes ela me enche o saco,
às vezes ela me esquece do outro lado do rio;
mas eu sei nadar.
Então se algum dia eu chegar diferente e te disser: “bom dia só se for pra você”,
não fique chateado,
a culpa é dos passarinhos.