Encubação

Pensando bem, há uma leveza, uma paz,

Que a gente mesmo, querendo, constrói;

Basta sujeitar nosso pensamento, assaz,

Para evitar que a amargura contumaz,

Nos faça doloroso, o que, na real, nem dói...

Digo, essas malícias infundadas que pesam,

Nas vezes que somos tomados pelo escuro;

São meras facas imaginárias, mas, lesam,

Os incautos que essa oração avessa rezam,

Rogando antecipação de funesto futuro...

Assim, quando não mais vemos a vereda,

Por se fazer nebulosa além de estreita;

O risco é sorvermos dessa fruta azeda,

Para que de imediato nossa paz retroceda,

Tendo como real, o mero vulto da suspeita...

“In dúbio pró réu” diz uma máxima do direito,

Legando indistinta a presunção de inocência;

Mas, na dúvida não raciocinamos com jeito,

Ou, atribuímos nossos predicados a outro sujeito,

Tal “crítica” é uma autocritica, na essência...

Em suma, o risco é que a bússola enganosa,

Mostre uma enseada onde existe um cabo;

Ou, enlouqueça sua agulha se faça venenosa,

Bastaria uma porção de prudência, zelosa,

Para gorar de vez, toda uma ninhada do diabo...