Rascunho

Ando rabiscando minha sombra,

sentado no galho de uma árvore,

vendo caírem as folhas de outono,

enquanto o tempo esvai-se em meus dedos,

e tudo o que ficam são rabiscos,

rascunhos de poesia e desenho,

misturas de cor e cinza de carvão,

deixei de ser a aquarela de tintas guache,

virei o erro apagado com corretor,

mal feito no mal dito de um discurso,

redesenhando os passos tortos,

de um caminho irregular,

num oceano de tolices,

espalhando confusão,

pescando minhas próprias dores,

preso entre o ontem e o hoje,

redefinindo um traçado desfeito,

nas curvas de uma estrada infinita,

correndo na areia de um mar distante,

rabisco meu reflexo circunflexo,

sou tudo o que jamais fui,

serei o que nunca me oportunizaram,

um rascunho sem sentido,

um conto sem final,

uma poesia sem rima,

um desenho sem forma...