Perspectivas

Olhe! Aquela morena,

Olhe! O rebolado dela.

Mesmo encurvando o pincel,

Não consigo retratar

As curvas que vejo nela.

Olhe! Aquela moça,

Que vejo pela fresta,

Sentada no passeio

Tragando a tarde

Que lhe acalma.

No meu quadro

A sua alma

Não enquadra.

Os meus traços

E aqueles ângulos

Que deixo no espaço,

Não conseguem passar

O calor que sinto

Quando lhe abraço.

Não consigo desenhar

/ no espaço /

A angústia que passo,

Mesmo sem ter réguas

Ou a certeza do compasso.

As cores que agora espalho,

No limite da minha tela,

Com a mistura infinita do preto,

Não conseguem ser o atalho

Para o brilho que vejo

Nos olhos dela.

O pouco de mim

Que ficou gravado

Sob as cores da aquarela,

Não representa

Tudo que vivi

Olhando da minha janela.

Aquele instante

Que tentei prender na tela,

Não é o mesmo agora...

Quando os teus olhos

Encontrarem estas cores

Sob os raios de uma nova aurora.