dentro do amar tem um frio
dentro do amar tem um frio
por ele passa a erosão do forte
arrasta os indecifráveis segredos
do mistério em vida na morte
o revés da compaixão consome
o silêncio vago no descalabro
faz nascer no conflito dos pobres
os ladrões nos pomares da fome
escuto a palavra perniciosa
vacilações, no ar, mentirosas
a simples negação silenciosa
o desdém prolonga-se aos pobres
cria num pulsar antediria
o cruel na asfixia das múmias
desapreço escorchante sangria
em sinfonia de um Nosferatu
dentro de nós secou a espera
num gesto mudo de uno verso
somos da palavra o reverso
da criança o pão que dividíamos
retornamos à vértebra do tempo
o desdenho no livro da indiferença
anafilaxia de omnipresença
no riso fácil dos ceifadores
a norma hedonista de um vazio
um não estar num indolor não ser
a ascensão fogosa do simulacro
dentro de nós apenas um frio
"tempus fugit, tempus fugit"(1)
pragas e demônios a besta mata
bendirias, bestarias, bendizias...
"toda badalada nos fere, a última nos mata"(2)
(1)"Tempus fugit" é uma expressão latina de: "O tempo foge".
(2) Provérbio latino-americano:"Todas 'as horas' nos fere, a última 'hora' nos mata"
Pedaço de mim[Chico Buarque]por Chico Buarque e Zizi Possi
Este poema cantado faz parte da trilha sonora do drama musical "Ópera do Malandro"
https://youtu.be/Neg1hINyIgk
http://interludioepoesias.blogspot.com.br/2014/01/dentro-do-amar-tem-um-frio.html