Plágio
Plágio – Menino Jesus
Eu também sonhei com o Menino Jesus.
Ele me chegou diferente daquele de Alberto Caeiro.
Estava mais crescido, já quase um moço.
Não era loiro e nem tinha os olhos azuis.
Vestia uma bata branca sobre a pele queimada pelo sol,
E trazia atrás das orelhas um galho de arruda.
Não fugira do Ceu, ao contrário vinha a pedido de Deus.
Continuava a ser demais nosso, por isso retornara.
Disse-me que amava ser a segunda pessoa da Trindade,
E o que dissera a Caeiro, em outros tempos,
Fora rebeldia de criança.
Nunca a Trindade se fizera tão necessário lá no Ceu
Como aqui na Terra.
Quando Ele me veio, tão serenamente
Já não era primavera, e os gramados estavam menos verdes,
Era inverno, poucas flores resistiam ao frio.
Não veio para ver os rios e nem subir em árvores.
Pediu-me um copo de água, e o transformou em vinho.
Abraçou-me com sorriso largo
Convidou-me a sentar a sombra de uma árvore
Numa rua qualquer no coração de São Paulo.
Falou-me que seu Pai não era uma pomba estúpida,
E tão pouco era um velho, não se fazia sério, mas preocupado
Com as coisas que estavam acontecendo no mundo,
Era um grande sábio e continuava
A amar todos os homens e mulheres da Terra.
Depois, saímos andando pela cidade.
Enquanto andávamos, foi me mostrando-a,
Não aquela que se mostra, mas aquela que se esconde
Por trás das cortinas negras das fantasias midiáticas.
Mostrou-me a infância abandonada nas ruas escuras,
A droga vagando pelos becos e pelas praças,
Presos, maioria negra, amontoados nas prisões,
Crianças grávidas e prostituídas.
Levou-me a visitar os doentes
Esquecidos nas macas dos hospitais,
E a miséria endêmica da periferia,
Os trens e ônibus da cidade
E a multidão de trabalhadores esmagada
Na dignidade e na vida.
Homens e mulheres desconfiados do futuro,
Jovens em busca de vida de mãos dadas com a morte.
Não me mostrou os grandes bancos da Avenida Paulista,
Nem os grandes shoppings, nem as lojas de luxo dos Jardins.
Mostrou-me apenas o que não se mostra no discurso da novela.
Mostrou-me tudo o que não se quer ver.
E quando me vi fatigado de angústias, segurou-me as mãos
E falou-me que há muito, conhecera as cravas e a cruz.
Para que nós, tão pequenos e tão terrenos,
Não precisássemos usá-las.
Quis no meu sonho, fechar os olhos e deixar de sonhar.
Então, Ele me abraçou, despediu-se, recolheu um tamborim e um pandeiro
E me disse que estava de malas prontas para o Rio de Janeiro.
Não iria à praia, visitaria apenas os morros.
Do Alemão, Dona Marta, Pavãozinho, pois o Brasil era muito grande.
Tinha um encontro marcado com o Cristo Redentor
Para tratar das injustiças do país, haja vista que Deus é brasileiro.
Quando abri olhos, era madrugada, Ele se fora num flash de esperança.
Sei que tenho fé nos homens, mas prefiro acreditar em Deus!!!