O Poeta Quer Falar
O poeta quer falar;
De tudo que sente, do que lhe faz viver, do que lhe faz andar.
O poeta quer falar;
Das dores que sente, o desconforto da mente, as palavras de seu ar.
O poeta quer falar;
Das causas existentes, das coisas inexistentes, do abandono de seu lar.
O poeta quer falar;
Dar a réplica, na fala, a oitava, todas as vertentes que o fez revidar.
O poeta quer falar;
Que beleza é tristeza, que tristeza é beleza, que a verdade é mentira, que a mentira é verdade, e que tudo que o poeta escreve vem das palavras além-mar.
O poeta quer falar;
Sem consultar cartas, ler mãos, conhecer previsão, no tempo de ser e estar, confrontar deuses de ferro madeira, barro, semideuses e tudo mais que deseja sua fala estancar.
O poeta quer falar;
Dos presentes passados nas histórias futuras,
De tudo que lhe fez caminhar por tantos lugares e ruas.
O poeta quer falar;
Do que sabe e não entende, do que sente e compreende.
O poeta quer falar;
Da minha, da sua, da nossa poesia, do verbo ao dia, da metonímia nostalgia.
O poeta quer falar;
Com sua espada cortando a repressão, com suas dúvidas causando transtorno, solução e opinião, com seus sofrimentos erguendo troféus conquistado de reis pagãos.
O poeta quer falar;
Aos sacerdotes, cultos, incultos, traidores, covardes, verdadeiros, perseguidos, cabreiros, e até mesmo aos poetas corruptos, em seus cultos, plenários, bancadas e circuitos.
O poeta quer falar;
Do sofrimento próprio e alheio, porque foi e de onde veio , sem indagar quando partirá.
O poeta quer falar;
Sem estrofe, texto, soneto,
Sem reflexo, espelho, quadrantes,
Sem mesões, ângulos, triângulos,
Sem mãe ou pai de santo,
Sem hindu, budismo, candomblé,
Sem espiritismo, falsas crenças,
Sem ludibriar, mentir, iludir.
O poeta quer falar;
No meio de heróis e vilões.
O poeta quer falar;
Fazer compreender, entender, questionar...
Pois o poeta sabe,
Que ser poeta,
É não ter nada pra falar.
Mesmo assim,
O poeta quer falar.
Humberto Fonseca