Cura
Amei três vezes na vida,
na primeira vez foi tão leve,
em poesias como pólens ao vento,
sorrisos soltos sem razão,
madrugadas a dentro sem café,
sonhos construídos em castelos de areia,
na intensidade de sentimentos verdadeiros,
nas cores das pinturas de Monet nas paredes,
assim amei, amei o amor, amei a amada...
Na segunda vez foi tão forte,
como uma música que me arrancava a passividade,
beijos violentos, corpos apaixonados,
berros e êxtases frenéticos,
um amor de noites e dias insônes,
desejos aprisionados em garrafas lançadas ao mar,
ondas contra as rochas de corais na enseada,
perdendo minha sanidade na loucura do querer,
assim amei, amei com raiva, amei uma inimiga...
Na terceira vez foi quase racional,
calculado na quietude da qual meu interior carecia,
enviezada na serenidade de uma mulher madura,
tocado pela sensibilidade cuidadosa,
vontades saciadas em gozos complementares,
mimos entrelaçados aos gostos pessoais,
dedilhando nossas músicas no violão das conversas,
sentindo meu coração se expandir no universo,
assim amei, amei com cadência, amei a melodia...
Todas as três me transformaram, me ressignificaram,
hoje cada um seguiu seu caminho em direções opostas,
houve lágrimas, erros, mágoas jamais perdoadas,
dizeres silenciosos, rotas incontornáveis, tristezas eternas,
esquecimentos presentes em rememorações contínuas,
me lançando a uma nova jornada de busca por mim mesmo,
de reencontro com meu abismo profundo,
superação das fraquezas que me corroeram por tanto tempo,
assim estou me reconstruindo, me compreendendo, me curando...