Ser

Eu sou a arrogância, mas também sou a humildade.

Eu sou tristeza profunda e também sou sublime felicidade.

Eu sou a partida, assim, como sou a saudade.

Sou forte, às vezes, sou fraco.

Sou capaz de ver e, sem querer, me cego.

Sou a palavra que toca e também o silêncio que sente.

Sou sólido como a terra, mas posso fluir como a água.

Sou luz que ilumina e sou trevas que assombram.

Sou o exagero dos sentimentos e a modéstia das demonstrações.

Sou o pecado do desejo e a santidade do fastio.

Sou fonte, mas também sou escassez.

Sou oásis e sou deserto.

Sou o vazio que preenche e, quando cheio, sou oco.

Sou a palavra que não disse, sou o calar que proferi.

Sou a vaidade do reflexo, e a discrição da face.

Sou a ira descomedida, e também sou a mansidão que pondera.

Sou a utopia onírica que projeto e sou a realidade concreta que produzo.

Sou o anoitecer que antecede e o amanhecer que sobrevém.

Sou o “Olá” tímido, e sou também o “Adeus” orgulhoso.

Eu sou e deixo de ser.

Eu sou o que sou, mas também sou o que você vê.