O Silêncio das Reconstituições Intermináveis.
Era madrugada.
Os espíritos encontravam o mundo das estátuas.
Genialidades em cimento presas ao deserto.
Um dos sábios disse consigo mesmo.
Tive muita sorte em existir.
Um privilégio.
De ter linguagem e pertencer ao homo sapiens.
O mundo seria tão diferente.
Bastaria não ter nascido.
Tudo seria como nada tivesse existido.
Seriam apenas as não significações.
De um olhar triste e melancólico.
Esperando a fluência do ar.
O instante tão somente a infinidade.
Mas como tive a sorte de existir.
A existência de tudo é a minha percepção.
Mas quando eu deixar de ser.
As coisas cessarão suas existências.
Sendo que não mais existo.
Para entender o que as coisas serão.
Então os segredos silenciarão.
No abismo da infinitude.
A única realidade possível.
A constituição da antimatéria.
O antes voltará a ser.
O que sempre fora a priori.
A formulação da inexistência.
Restarão então aos universos contínuos.
Os sonhos reprimidos.
Enquanto isso os desejos desaparecerão.
Em uma noite profunda.
Intensamente escura.
Sem proximidade com a madruga.
A esperança de renascer o sol.
Entretanto, a energia de hidrogênio exauriu-se.
Restará ao infinito conglomerado de gelo.
O princípio do reinício das revoluções químicas.
Os deuses desapontados transformarão em estatuas de neve.
Mas sem a existência sapiens para a contemplação.
Professor: Edjar Dias de Vasconcelos.